Como a pandemia da COVID-19 afetou a população idosa brasileira?

Written by Erika Alves

3 de abril de 2022

Foto: Eduardo Soares

Análise de artigo

Análise feita pelo ligante Leonardo Costa

O artigo tem como objetivo caracterizar a população idosa no contexto da pandemia da COVID-19, levando em consideração condições de saúde, socioeconômicas, desigualdade de sexo, adesão ao distanciamento social e sentimento de tristeza ou depressão.

Os resultados apresentaram evidências do alto e desigual impacto da pandemia na saúde, renda e cuidado dos idosos brasileiros, além de reforçar desigualdade de gênero nessa faixa etária. Foi abordado a composição familiar desses idosos e observou-se risco independentemente de como viviam, pois os idosos que moram sozinhos podem precisar de ajuda para adquirir alimentos, suporte afetivo, cuidado à saúde; e idosos que moram com outras pessoas corriam riscos de serem contagiados por pessoas que precisavam sair de casa diariamente.

O artigo verificou que é frequente idosos brasileiros se sentirem muitas vezes ou sempre sozinhos. Esse sentimento pode estar associado com o problema estrutural sobre luto, abandono social e estigma da velhice, os quais podem agravar na pandemia, quando idosos vivenciam luto coletivo, alta letalidade de seu grupo etário, abandono de governantes e falta de políticas públicas de proteção social.

O sentimento de ansiedade, solidão e tristeza durante a pandemia foi mais acentuado entre mulheres idosas, podendo representar uma consequência da carga que a mulher tem no cuidado domiciliar, aumentado durante a pandemia, quando muitas idosas são responsáveis por cuidar de outros parentes, como netos, maridos, outros idosos e filhos. Identificar idosos que moram sozinhos é uma recomendação da ONU, que, inclusive, poderia ser realizado pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que possuem um papel importante na identificação e acompanhamento de idosos com necessidade de suporte. Entretanto, desde 2017, as mudanças na Política Nacional de Atenção Básica desqualificaram o trabalho dos ACS, agravando o risco de desassistência dessa população.

As mudanças no trabalho dos idosos durante a pandemia impactou homens e mulheres de forma desigual, o que tem relação, provavelmente, com o trabalho feminino no Brasil se concentrar em atividades por conta própria, como diaristas e domésticas, as quais em grande maioria não têm vinculação contratual e estão em situação de maior vulnerabilidade.

Os vínculos empregatícios e garantias trabalhistas, de certa forma, são uma seguridade para condições de vida. O crescimento de empregos informais, assim como flexibilização de direitos trabalhistas, coloca a população em condição de vulnerabilidade econômica. A perda da renda per capita durante a pandemia foi frequente entre idosos sem vínculo empregatício, mostrando a necessidade de instituir políticas de proteção social e apoio a populações em situação de vulnerabilidade, como programa de renda mínima.

Algumas limitações da pesquisa ConVid precisam ser observadas. Destaca-se que os achados aqui se referem a uma população que apresenta maior acesso à informação e recursos comunicacionais. Pessoas de menor escolaridade, sem acesso à internet, não puderam participar da pesquisa. A exclusão involuntária das pessoas de baixa escolaridade pode ter provocado a subestimação da proporção de pessoas que não fizeram o distanciamento. Como também, a dependência das observações decorrentes do recrutamento por amostragem em cadeia pode ter levado a estimativas enviesadas. Outra limitação da pesquisa é não identificar idosos que moram em instituições de longa permanência, modalidade de moradia de milhares de pessoas idosas, com maior risco de contágio e mortalidade por COVID-19. A utilização de pergunta sobre ansiedade e depressão sem aplicação de instrumento validado, pode ter levado a superestimar sua prevalência, já que o relato pode referir-se apenas a um sentimento momentâneo e não a uma doença estabelecida.

Conclui-se que estratégias para mitigar a solidão e o distanciamento social devem ser feitas levando-se em conta a vulnerabilidade social e a acentuada diferença entre homens e mulheres quanto à composição domiciliar e às condições socioeconômicas e de trabalho. Recomenda-se o desenvolvimento de pesquisas representativas da população idosa brasileira e que investiguem o impacto da pandemia neste grupo.

Para ver o artigo completo acesse o link.

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